terça-feira, 29 de novembro de 2011

Privação

Hoje eu falo sobre privação.
Vou começar com um suflê de suposições que, na minha opinião, se entrelaçam de alguma forma.

Existe um teoria estudada no mundo comportamental, desenvolvida pelo psicólogo David Premack, que diz ser possível prever condutas e até modificá-las ao fazermos uso de comportamentos mais prováveis (mais desejáveis para indivíduo) como reforçadores de comportamentos menos prováveis (menos desejáveis para o indivíduo).

Em outras palavras, para facilitar o entendimento, tudo se resume na frase da mamãe:

"Coma os legumes primeiro, para ganhar a sobremesa"

E, sim, funciona muito bem com praticamente qualquer animal. E isso nos inclui também.

Mas como nem tudo diz respeito a vegetais, existe também a teoria da Reatância, que sustenta a aplicação da psicologia paradoxal, ou mais comumente conhecida como psicologia reversa. Nessa linha de pensamento, um indivíduo que tem acesso a algo de relevante importância, quando privado desse algo, pode desenvolver um interesse maior ainda pelo mesmo. E justamente ocorre o contrário, se o acesso é imoderado.

Sim, também existe exatidão aí.

Veja bem, creio que ambas as teorias se aplicam a todo mundo, na verdade. É aquela velha história de perder pra querer, entende? É aquele brinquedo quebrado, o frio que não vem,o parente falecido, o amor fracassado.

É curioso e um tanto triste nós, seres humanos, precisarmos do "não ter" ou do "perder" para valorizarmos aquilo que parecia ser tão bom... ou nem tanto assim. Nós temos uma capacidade sobrenatural de insatisfação e idealização que chega ao limite de desgastante.

Será que existe fim pra tudo isso, senão a morte?
Eu realmente torço para que exista outro desfecho, mas às vezes me torno incrédula...

Talvez o segredo esteja em aceitar a mudança a todo instante, tal como nossos desejos, idealizações e os amores. Porém, não seria mais cômodo se não precisássemos encarar essa verdade de que tudo muda? Imagine abraçar a felicidade amanhã e continuar nela pelo resto da vida....

com
-a árvore do dinheiro

- o big mac que não engorda
- o final de semana de cinco dias
-a tatuagem sem retoque
- o primeiro amor
- o desodorante pra toda vida
- o cabelo que não precisa cortar
- o filho que não cresce
-o cachorro que não morre
- o seriado de dez anos
- a família que vive pra sempre
-o livro que não acaba
.....


Mas, Felicidade, será que se a tivéssemos a todo instante, dar-lhe-íamos o seu devido valor?
Acho que não.
Então eu quero meus legumes, muitos deles! Dos mais amargos, aos que me picam a língua. Mas que fique porvir uma sobremesa bem doce. A mais doce.





Foi essa música do "Black Eyes" do Radical Face que me inspirou a escrever dessa vez.
Quem quiser pode ler a letra AQUI.

Obs: Me desculpem, senhores(as) psicólogos, se me falta compreensão. Só estou tentando entender, sem nenhuma pretensão.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

.

escrevo por mim, por você.
escrevo por nós.

pela história que tive, que teve.
pela história nossa.

pelo amor que senti, que sentiu.
pelo amor nosso.

por medos meus e seus.
por medos nossos.

vivi pra saber, pra não saber.
mas não vivo mais por nós.
agora, só pra mim.

translúcida


São Paulo, 10 de novembro de 2011.

Lembro das noites em que eu acordava só pra te encontrar quando meus sonhos me levavam pra longe. Me fazia bem vê-lo em sono morno e pacato, perdido em abstrações, tal como eu. Seu semblante me fez crer que a vida era feita daquilo ali; dos pequenos momentos de felicidade resguardada, sempre imprevista.

E eu afagava seus cabelos carinhosamente. A textura era boa. Você era bom.

Me fazia sorrir.

E, olhe, foram tantas as noites em que acordei com medo de tê-lo perdido. A mera idéia me prometia a morte ou uma vida infeliz. Mas sorria de novo, tola, ao ver que ainda estava lá, sonhando ao meu lado e torcendo por nós. Sei que torcia.

Mas a vida tem formas estranhas e seguindo caminhos errantes fez algo que parecia tão certo e cheio de pureza, sumir. Foi embora num ponto sem volta. Não creio que tenha.

E, como em um sonho ruim, o chão se desfez, envolveu meus pés sem calos e me arrastou, tentando me afogar. E a força empregada foi tanta, que pensei jamais ser capaz de sair dali um dia. Do poço de tormenta, cólera, ruína.

Pensei não ser mais capaz de sorrir.

E como poderia, se o meu distinto e insensato havia sido tirado de mim? Mas, não, essa não é uma carta de lamúria. É, na verdade, uma carta sobre como saio daquele poço. Não era o que você queria?

Foi sem forças que encontrei decerto a violência dentro de mim. A ferocidade e vontade de viver - aquela, que você sempre lembrava existir em mim. E hoje me pego dizendo Não mais, nunca mais vou perder um segundo sequer! e sei que você ficaria orgulhoso.

Voltei a sorrir e as pessoas chegam pra mim.

Mas não pense que é fácil. Sabe que não é. Me encontro às vezes perdida na multidão, presa com meus temores, embora jamais tenha me sentido tão viva quanto agora. Acho que deve ser o medo.

Mas ainda fujo.

Fujo do que me assusta, da palavra não dita, do embaraço, do olho no olho, da presença, da ausência. Da solidão.

Mas fujo menos.

Não sei se guardo rancor. Se quero ou não. São equivalentes os motivos pra odiar e amar. Mas, afinal, qual é a diferença? Tudo mostra que me importo e só isso basta. E eu sei que você também se importa.

E isso me faz sorrir, de novo.

Mas dói. Então só o que quero é que saia de mim. Sai, por favor, e vá embora! Não estou pronta. Some daqui, some de mim, só pra eu me sentir livre agora. Ser uma amiga, não dá. Hoje não.

Honre sua escolha e suma agora, mas não me amole a toda hora.

Sim, dói. Mas, veja bem. Dói menos. Não morri, nem sou infeliz.

E, sim, você vai sumir de mim.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

um texto cheio de amor e ódio

odio


Eu lembro de um dia escrever sobre as deslealdades do homem. O bicho homem, não o sexo. Propunha odiar as pessoas antecipadamente, só pra não mais amargar a boca com o gosto de travessuras alheias, que me fugiam ao controle.

Mas ódio é uma palavra tão odiosa, certo? Não seria exagero meu? Odiar tão gratuitamente?

O que fizeram pra merecer o meu ódio? E, olhe, me entenda agora. Não é uma questão de réu ou condenado, porém creio que as pessoas sejam indignas de tal sentimento - de graça, pelo menos. É dito que o ódio é parceiro do amor, que co-habitam e que são quase a mesma coisa, com uma só página de história os separando.

Logo, se um precisa do outro pra existir, então eu amo as pessoas. Sim, devo amá-las de forma exacerbada, sem mesmo conhecê-las . Veja a contradição. O que me fizeram elas para merecer o meu amor e ódio?

Será que o meu ódio vem da carência de amor? Ou seria eu que o queria igualmente de graça?

Creio que fui sozinha demais, embora me fira ao admitir...e aos meus pais também.
Eles me diziam que fui criada para ser independente, pra rebolar e fazer acontecer. Mas será, mesmo? Não que eu não goste de me supor dessa forma, pois, afinal, quem não apreciaria?

A independência ludibria o homem! Mas, não seria ela outra palavra cheia de dualidade, assim como amor e ódio? Aposto que a Sã Independência morreria pelo Tão Dependente a qualquer instante, e vice-versa. Olha só...é contradição em todos os meus cantos. Uma parte minha quero amar e outra odiar. A linha é tênue, mas existe.

E, agora, dado meu entendimento pleno, penso eu, a respeito da significância de cada uma dessas palavras, sei que não quero viver sozinha. Nunca quis, embora eu acreditasse que sim. Eu quero amar e odiar, precisar e não precisar. Não existe preto no branco, mas, sim, o cinza.

É tudo cinza! Tudo, tudo, tudo...
E o amor também; ele não é vermelho. É ausência. É presença.

Inacreditável do que são feitas as crianças.

Seu segredo está na massa volúvel, de presente e naturalidade, que aceita várias formas,cresce, aglomera e se permite mudar. De prima matéria luxuriosa e nada mais que o próprio prazer. O prazer do nascer, do existir. É bom, não há passado nem futuro.

Todavia, como em todo para-sempre, chega um tempo em que a mistura se torna espessa demais e maleável de menos. Tão densa de adversidades falhas que é quase impossível tocar e penetrar-lhe com os dedos. Por quê? O coração fecha, as dores calejam e a massa esfria. Inflexível. E agora, como se fazer educar? Se nada mais o toca. O peso lhe incomoda e o faz se arrastar, só pra não parar. Tanta massa e pouca força. Me pergunte E agora?

E a resposta está ali. Sim, sempre esteve. Ali no agora.

A massa infantil, não renega o agora. Não se fecha e não esfria. Que mal tem a pequenez a toda hora?
É nela que me apoio. E com ela caio e levanto. É em minha pequenez que encontro meu primoroso flanco. E a verdade de que a vida é o que é. Muito e nada num bolo de pasta.

E da genuína compreensão é que deveras verá como é espantosa a polpa, e como ainda pode embeber, abrandar e deixar-se seduzir. Porosos, é o que somos. Endurecemo-nos, mas continuamos mutáveis...

.... e amando, chorando, rindo.

É aí que está seu o gozo, senhora. Acredita em mim agora?